Reconstrução
Reconstrução
Colunista- Everton Villa ( Vevi )
Há mais ou menos um ano atrás o Rio Grande enfrentava uma catástrofe ocasionada pelas chuvas que acometeram o Estado e deixaram submersas muitas cidades gaúchas. Lamentavelmente várias pessoas acabaram perdendo suas casas, suas vidas, suas roupas, seus bens e, por extensão dessa calamidade, perderam um pouco de sua identidade.
No dia em que escrevo esta coluna, leio uma notícia no jornal que inevitavelmente joga luz sob meu dia escuro, por conta da chuva. A notícia trata da reconstrução de uma escola em El Dourado do Sul, região metropolitana da capital.
A Emef David Riegel foi inteiramente afetada pela enchente devastadora de maio de 24. Uma escola que contava, à época, com 800 alunos. Graças ao esforço comunitário e à coletividade, a escola foi reconstruída. Os professores emocionados destacaram, na reportagem, que a única coisa a fazer era recolocar os alunos dentro da escola, afinal a vida precisa continuar, mesmo depois de fatalidades.
Hoje, comunidade, pais, alunos e professores olham para o pátio da escola onde antes era tão somente água e desabafam: – “Olha só, nós conseguimos”!
Já escrevi neste espaço e sempre quando me ofertam a palavra procuro repetir: Um educador sempre estará ao lado de seus alunos, defendendo o conhecimento, que é a esperança de progresso, de avanço. No final dos anos 80 e início dos 90, uma professora preocupada com seus alunos que viviam em situação de rua e não mais frequentavam suas aulas, foi até eles para saber notícias.
As crianças disseram não ver futuro em frequentar a escola, afinal a pobreza fatalmente iria os empurrar para o trabalho em pouco tempo, ou para o crime. A professora não teve dúvidas, passou a ensiná-los ali mesmo, debaixo das marquises e viadutos.
Um educador não é, e tampouco quer ser herói de coisa alguma, menos ainda em um país que despreza veladamente sua educação e prioriza seu sistema, de ganhar dinheiro às custas de mão de obra barata, às custas da ignorância alheia e de politicas públicas que não passam de projetos eleitoreiros e, é bom dizer, essa politicalha persiste e ainda funciona porque a sociedade brasileira consente e apoia essa dominação cruel, onde os menos favorecidos têm suas possibilidades castradas, enquanto essa insuportável e nojenta meritocracia faz as honras e corteja pessoas e seus intelectos de azeitona.
Um educador apenas acredita em um mundo mais solidário, mais sensato e menos hipócrita. É justamente por isso que muitos levantam cedinho e reconstroem escolas. Não é pelos altos salários que costumam receber e o pouco trabalho (contém ironia, é bom esclarecer, tem uma galera que leva tudo ao pé da letra), nem pelos holofotes ou para terem seus egos massageados pela loucura onomatopeica que é ter um diploma de alguma universidade aleatória onde ainda retumbam nos tímpanos o som das bandas de rock nas festas de turma e a língua ainda sente o gosto da vodca barata e de algum cigarro de procedência duvidosa (isso não se aplica a todos, Ahh juventude), claro que não!
O educador vive daquilo que nasceu para fazer e não sabe explicar direito esse instinto. Como disse Paulo Freire, o educador é um ser do mundo e para o mundo. A educação precisa da coletividade, dessa mesma coletividade que reconstruiu a escola David Riegel, A educação precisa do interesse das pessoas, das suas sensibilidades e não de estereótipos ou políticos tecnocratas, canalhas que inventam todo dia uma nova fórmula para se dar bem e avacalhar com a vida de ainda mais pessoas!