A sociedade voluntária: Apenas com fins lucrativos
Colunista Everton Villa ( Vevi )
Certa vez Luciano Potter, em seu programa de entrevista, perguntou ao Eduardo Bueno, o Peninha, a respeito de Deus. Potter foi direto: – Peninha, Deus existe? Muito sarcástico e sem papas na língua, Peninha rebateu: – A julgar-se por tudo que vem ocorrendo no mundo a partir da sua criação, se ele existe é problema dele, e, é um problema grave.
Jamais faria aqui ou em algum outro lugar qualquer tipo de afronta contra a religião das pessoas, tampouco insinuaria que a crença em alguma deidade é algo irrelevante. Jamais! Pessoalmente não acredito, já escrevi sobre essa questão e muitas pessoas vieram me questionar sobre esse posicionamento, logicamente isso não me torna melhor, pior mais ou menos inteligente. Apenas compreendi que a medida que aprofundava meus conhecimentos sentia que a crença era algo que de alguma forma tirava minha liberdade, não me sentia a vontade pedindo e agradecendo e tornando a pedir, nem com o fato de que precisaria sofrer ou sentir dor para crescer. Essas coisas existem porque viver é isso, felicidade, penúria, dramas, alegrias…enfim, isso é uma particularidade minha, um entendimento pessoal e certamente não é referência para ninguém. Mas não se trata disso essa reflexão.
Iniciei no assunto porque o mundo parece estar de pernas para o ar. As pessoas parecem que estão enlouquecendo. Absurdos estampam jornais e noticiários todos os dias! Pai atirando filho de ponte, alunos desligando câmeras e esfaqueando professora na escola, seres humanos puxando animais de carro em alta velocidade, agressões em massa em apenas um indivíduo e a normalização de quem assiste tudo em silêncio e só faz filmar para futura postagem (escrevi sobre isso na coluna passada), etc, etc, etc… Claramente nada disso diz respeito às religiões e sobre a fé das pessoas em seu Deus. Entretanto todos esses problemas citados são problemas sociais, causados por pessoas, são crimes que a sociedade normaliza e relativiza. As pessoas não querem compromissos, não se comprometem e subjugam quem tenta, mesmo que minimamente atenuar problemas. Citarei dois exemplos. O primeiro é local, os cães de rua. Tivemos por mais de 3 anos um PROJETO VOLUNTÁRIO que tinha um único intuito: Amenizar o sofrimento dos animais abandonados, e precisávamos muito da ajuda da comunidade, precisávamos de ações concretas, mão na massa, ajudar a tratar, dar água, fazer casinhas, medicar, havia muita coisa para fazer, porém a ajuda era apenas financeira, era, obviamente, muito necessária e bem-vinda, mas não era o essencial. Para o trabalho braçal, estávamos em, sei lá, chutarei alto, umas 10 pessoas, que se revezavam semanalmente para atender esses animais. A sensação era de enxugar gelo, sem apoio nenhum não há trabalho coletivo, as coisas não se sustentam e as pessoas desistem. A coisa só fica pior quando o problema que antes era visto por somente alguns, agora é um problema que incomoda a maioria, aí aparecem os críticos e os criticados calam-se, porque já gritaram muito e anteriormente ninguém quis ouvir. Segundo exemplo: Padre Júlio Lancelotti. Um solitário guerreiro que tenta impedir que PESSOAS em situação de rua morram de fome. O Padre é frequentemente ameaçado de morte (e o pior é que isso deva acontecer cedo ou tarde) por esse ato solidário, justamente pela imbecilidade da polarização esquerda/direita. Pe. Júlio é visto como comunista, como um afrontoso diante da Igreja católica, pois seus fiéis representantes enxergam na solidariedade, performances e nuances ideológicas, enxergam ódio ao invés da fome, enxergam política ao invés do frio, banalizam um trabalho importante, deploram a vida, afinal a insignificância de quem vive na rua, não atravessa vitrôs de Igrejas que cultuam deidade, eu particularmente gosto do Thor.
Do alto de minhas poucas convicções, enxergo sob outro viés. Enxergo como falta de comprometimento, falta de humanidade, e nada é mais humano do que a falta de humanidade. Nenhum problema social se resolve apenas por força do estado ou de estabelecimentos públicos. É preciso colaboração da sociedade, empenho e compromisso coletivo. Sem isso, a fé torna-se obsoleta, Deus transforma-se em um balcão de negócios, onde agradecer vem somente após o desejo concedido, a fé não é anterior ao desejo, ela pode ser maior depois do prêmio, mas nunca antes, e, os outros, são apenas os outros!