Meu Papai é Noel
Colunista – Everton Villa ( VEVI )
Poderíamos falar de tantas coisas marcantes que aconteceram em 2024, indubitavelmente coisas boas e
ruins, afinal de contas a vida é mesmo isso, um turbilhão de coisas boas e ruins, às vezes leve como uma
pena passeando no céu azul num vento suave de abril, noutras, como uma pedra de tonelada atada ao
nosso pescoço por uma corrente e atirada mar adentro.
Fato é que poderia não escrever sobre política e apaziguar o coração escrevendo algo sobre o rock
argentino dos anos oitenta, por exemplo, que muito me agrada, poderia, mas definitivamente não consigo.
O Brasil é um prato cheio. O Brasil é um caso de poesia, citando Carlos Drummond.
Acontece que os jornais trazem notícias das emendas parlamentares, a feira do ano dos deputados. O
regozijo, o refestelamento, a apoteose infinita do dinheiro público, quando falo em dinheiro público,
sapientes leitores, refiro-me ao nosso dinheiro, ao seu e ao meu. Dinheiro esse usado para carimbar, para
confirmar a parceria que sempre existiu, e não direi que sempre existirá porque não sou de maneira alguma
hermético, entre governo e deputados.
Talvez possa haver discordâncias quanto ao termo parceria, mas certamente existe a chantagem no jogo
político, hora feita pelos parlamentares sujeitando o governo, hora feita pelo governo sujeitando a câmara.
O ponto é: eles sujeitam-se, logo, existe parcimônia, aceitação, cumplicidade, portanto, parceria. Isso
aconteceu anteriormente no governo Bolsonaro e torna acontecer pela segunda vez no governo Lula.
Lula assinou sem pestanejar as emendas parlamentares, claramente pensando em acordos futuros, em
conchavos políticos, o velho e conhecido toma lá da cá, as mesmas práticas que emporcalharam
democracias anteriormente, os mesmos conchavos políticos, as mesmas mazelas que desmoralizaram
presidenciáveis, tudo para não perder prestígio na casa e seguir engordando os ratos.
Lula foi eleito prometendo acabar com o orçamento secreto (como se isso estivesse no controle da
presidência), coube ao Senador Flávio Dino, no STF (o mesmo STF que volta e meia algum “cidadão” acha
que tem o direito de explodi-lo), ponderar que a transferência de recursos públicos precisa ter
minimamente transparência. Os parlamentares queriam enviar via pix, uma quantidade de dinheiro para
qualquer prefeitura, mesmo não sendo de seu reduto eleitoral, sem nenhum projeto, sem valor de custo,
sem nem mesmo o tempo necessário para realizar as obras (caso elas realmente existam).
Senhoras e senhores isso é INCONSTITUCIONAL! É crime de lesa-pátria, é um absurdo, é um soco na fuça do
brasileiro que vive sem saber se o dinheiro fruto do seu suor, será suficiente, ao final de trinta dias, para
pagar o aluguel e comprar um chocolate no natal para o seu filho que passou de ano.
Mas os papais-noéis já estão prontos, postos em seus trenós para distribuírem presentes. O governo segue
a batida da banda do centrão, do “vomitativo” centrão comandado por Lira, despachando dinheiro público
aos borbotões e engordando os ratos do porão.
Os brasileiros assistem a tudo, comendo chester no natal e assistindo as aventuras da família Brasil. A
esquerda complacente, apaixonada pelo seu presidente, como se Lula fosse uma dádiva da natureza, um
enviado de alguma deidade que com seu cajado abre os mares e conduz seu povo a liberdade eterna. A
esquerda segue patética, sem atitude, fazendo pequenas guerras de guerrilhas, despreparada, ociosa, sem
argumentos que não sejam um rosto barbudo lembrando o Marx, mas muitos sequer chegaram perto de
suas obras. Quanto a direita, está ainda tentando se levantar, mas também sem preparo, cambaleante,
apoiando e financiando golpes de estado e lambendo coturnos de militares déspotas, achando que o
problema do Brasil é o STF, segue resumindo a comunistas, todos que não concordam com suas ideias e se
recusam a espalhar “fake news” da tia do whats.
O Brasil segue correndo atrás do próprio rabo. Buscando justificar os mesmos erros, as mesmas chantagens,
os mesmos conchavos, os mesmos corruptos. O problema não são eles. O problema somos nós. Mas isso
jamais será admitido. Seguiremos pelas mesmas vias, combatendo os mesmos inimigos. A esquerda sem
vestir a camisa do Brasil e a direita sem assistir a rede globo. Sintam-se em casa. A hospitalidade mora aqui,
a hipocrisia também. Falando em hipocrisia, Feliz Natal! Assinado: Papai Noel!