Sociedade Autoritária

Sociedade Autoritária

Colunista – Everton Villa ( VEVI )

Apesar de já não ser mais um guri e, infelizmente, mesmo já não sou, também não
tenho lá tanta idade a ponto de ter nas rugas e na barba (começando a trocar de cor),
a experiência que o tempo deve trazer, (muito embora algumas pessoas na medida em
que envelhecem, tornam-se muito mais chatas e tóxicas), no entanto, geralmente, a
velhice traz bagagem positiva.

Quero dizer-lhes que nunca tive uma noção exata do que é violência, do seu poder de
neutralizar e alcançar objetivos, até ler o livro: Brasil: Mito fundador e sociedade
autoritária, da extraordinária, Marilena Chaui. De fato não existem adjetivos para
celebrar a importância dessa filósofa e sua contribuição para a historiografia e para a
literatura brasileira. Marilena destaca a violência enquanto forma institucionalizada
das relações sociais. Num primeiro momento parece difícil compreender a frase, mas
não é, explico!

Essa violência é o que determina as relações de poder. Por exemplo: Quando alguém
discute acaloradamente com outra pessoa e não consegue se expressar ou mesmo se
fazer entender, então, num rompante, num ataque de fúria, uma dessas personagens
exclama: – Você sabe com quem está falando? Aqui se estabelece automaticamente
uma relação de poder, de autoridade.

Portanto o autoritarismo não é um mero acaso de alguém mais forte fisicamente, ou
por questão de natureza física, é sim, o estabelecimento do poder em forma de status,
de colocar-se acima do outro por meio do “carteiraço”, da força pré-estabelecida pelo
poder econômico, pelas disparidades sociais, pelos conchavos políticos, assim, está
posta a hierarquização. Eu possuo mais, logo o outro está abaixo nestas relações de
poder. Sempre Há um que manda e outro que obedece, e, fatalmente haverá em todas
as relações, do bojo familiar patriarcal, até o dono da bola no campinho de terra.

Isso está ramificado, está no cerne da formação social do Brasil, dos açoites e chibatas
do período colonial, passando pelo movimento eugenista em 1918, pela ditadura de 64
até o início dos anos 80 e chegando aos nossos dias, onde essas relações determinam
espaços que certas pessoas podem ou não frequentar. Profissões que podem ou não
serem exercidas, ou seja, alguém determina, no espectro da relação de hierarquia, que
determinada pessoa não tem perfil para desempenhar tal atividade, a partir daí
castram-se, para essa pessoa, todas as possibilidades de sequer tentar aprender aquilo
que não se sabe, apresenta-se a inviabilidade e o conformismo do sujeito como um
incompetente, uma mercadoria que deve ser negociada por valores menores de
mercado em função de sua incapacidade.

Enfim, são relações de poder pré-estabelecidas e determinadas. É a ramificação desse
autoritarismo que se estende e corrompe quase todas as instituições com sua
meritocracia, para excluir e selecionar, não os que podem, mas sim os que não devem
ser selecionados. É o puro suco de Brasil!