A seletividade da sociedade brasileira em relação ao negro
Colunista- Everton Villa ( VEVI )
Depois de alguns anos de muito empenho e dedicação e também de ter dado um basta na
procrastinação que sempre acabava me fazendo desistir de estudar, finalmente estou concluindo
meu curso em História.
Para tanto, precisei escrever um trabalho de conclusão de curso. No início fiquei um pouco
inseguro, acho que isso acontece com a maioria, mas as coisas correram bem, e a insegurança logo
foi margeada pela pesquisa e bons orientadores sempre dispostos a contribuir com o artigo.
Porém, não pretendo falar dos meus bons professores, e sim do assunto do artigo.
Escrevi sobre a seletividade da sociedade brasileira em relação ao negro. Sou um mestiço, filho de
pai branco e mãe negra, minha família por parte materna é negra e isso muito me orgulha e me faz
levantar questionamentos sobre as dificuldades de viver que muitos negros sentem.
O caso não é tão somente o preconceito em si, mas especialmente é o fato da sociedade ser
seletiva, não apenas excluir negros, mas selecionar os que não são para desempenhar atividades
diversas, seja em campos de trabalho ou estudos.
Quem se posiciona contra cotas, por exemplo, não deve fazer ideia de como a sociedade brasileira
se formou. Eu resumo um pouco. Se formou tendo como base, como alicerce, a escravidão,
primeiro dos povos originários, depois dos negros. Os originários foram massacrados e mortos em
sua maioria, os troncos linguísticos foram sendo apagados da memória. Depois os negros trazidos
do continente africano foram duramente castigados, e coube a eles a extração de toda riqueza
daqui e iriam encher os cofres da coroa portuguesa. O comércio, a venda de escravos era a
principal fonte de renda da sociedade brasileira nos séculos 17 e 18.
Assim foi se moldando essa sociedade, com o negro as margens de tudo, excluído. Pouco mais de
quarenta anos após o fim da escravidão, surge o integralismo na década de 1930, contribuindo
para marginalizar essas pessoas ainda mais. O verde-amarelismo, a ideia de pátria e Deus, criou
uma religião cívica, com a sociedade branca irmanada, inclusive com grito de ordem e sempre
apoiado no cristianismo e na parte extremamente conservadora da sociedade.
A Ação Integralista Brasileira (AIB) na década de 30, era o diferente, segundo seu criador, o
jornalista Plínio Salgado, no entanto, o que certamente não é coincidência, é que os integralistas
usavam camisas verdes, os fascistas italianos, comandados por Mussolini, na mesma época,
usavam camisas negras. Os integralistas também usavam braçadeiras com o símbolo matemático
sigma, que significa a soma integral, a braçadeira dos nazistas comandados por Hitler era a
suástica, o grito de ordem dos nazistas era HEIL, dos integralistas era ANAUÊ, supostamente
significaria sou teu irmão. O Integralismo era o nazifascismo europeu travestido de verde-amarelo
e impiedosamente racista.
Dentro desse espectro, essa sociedade vai se moldando e perpetuando a escravidão ao longo dos
séculos. Jamais ouve nenhum tipo de reparação histórica. Reis e Rainhas africanos foram trazidos
para cá e forçados ao trabalho escravo. O Brasil foi o último país da América latina a terminar com
a escravidão, era muito dinheiro em cima desse comércio.
Nada é por acaso nesse país. A militância não ocorre por acaso, tampouco as lutas, e, certamente,
também não é por acaso, ou apenas por ignorância o asco que alguns sentem das pessoas que
lutam por direitos e melhores condições, é a história se repetindo!
Precisamos avançar e tirar da razoabilidade esse debate. O negro não pode ser simplesmente palco
para novos projetos políticos eleitoreiros. Também faço votos para que as pessoas se interessem
um pouco mais pela história do país onde vivem e busquem entender os meios, e depois, então
sim, se ainda entenderem corretas suas opiniões, justificar os fins.
Insisto: “Um povo que não conhece a sua história, está condenado a repeti-la! (George Santayana).