Coluna Políticas Públicas e Sociais: Brasil: Uma história de massacres e desejos ocultos

Colunista, Historiador -Éverton Villa ( VEVI )

É extremamente violento o que pretendo escrever neste espaço. Refleti muito a respeito, reli livros e alguns artigos, tive raiva e ódio, e finalmente conclui: a maioria espera e aprova a violência, ela é parte considerável e indissolúvel de nossa história. Enquanto descendentes de qualquer etnia que tenha oprimido alguma outra, na medida que ser superior e mais forte agrade a maioria, então somos brasileiros, frutos da incoerência hipócrita e subserviente, e claro, da canalhice. Talvez tal escrita desagrade, mas isso não me importa mais, não hoje, não nestes tempos!

As escravas que serviram esse país por mais de 300 anos, serviram de todas as maneiras que os senhores e senhoras possam imaginar, ainda que duvidem, mas lhes digo, existem relatos em livros, (alguns tem alergia a livros e eu entendo mas…) relatando mulheres negras escravizadas, servindo, segundo relatos, como “boas éguas” para montaria e mesmo algum outro animal pudesse satisfazer as brincadeiras ou que coubessem no imaginário de alguma criança rica.

Também serviam para satisfazer os desejos mais abjetos de seus “donos”, não preciso verbalizar mais, nem adjetivar essas crueldades aqui, certamente todos compreendem. Pergunta: Quanto ao reparo histórico por todas essas atrocidades inomináveis? Zero, nenhum! Outra, quem se importa? Outra, falto com a verdade quando questiono se alguém se importa? Uma jornalista e economista chamada Miriam Leitão, foi presa, torturada e estuprada por 3 meses, na década de 70, quando os porões da ditadura militar também serviam para os deleites e refestelamentos do alto escalão do exército. Ainda há quem não acredite, e isso já não é problema meu, ou julgue ter muitas mentiras contadas pelas vítimas, e mesmo quem diga que não são vítimas os torturados, pois eram “subversivos”. Mais hipocrisia e sujeira varrida para debaixo dos porões. Brasileiros sendo brasileiros! AH mas é generalização, certo, vamos lá, reparação? Zero, ao contrário, todos, sejam assassinos, estupradores e déspotas foram anistiados, nada de consequências, Pergunta: Alguma pressão popular pelas dores das vítimas, indignação? Não, inclusive é um assunto pouco debatido em escolas e universidades. Não sei se por falta de interesse, medo ou complacência.

Somente o Estado de São Paulo, em 2024, tem média de 38 casos de estupro por dia. Mulheres em situação de vulnerabilidade são as maiores ocorrências, fiquem cientes que vulnerabilidade não condiz com pobreza e, sim, mulheres de até 14 anos e também aquelas que não tem discernimento para a prática, entenda-se deficientes e enfermos.

Claramente não causa nenhuma surpresa depois de todos esses exemplos que uma PL do estupro, em pleno 2024, séc. XXI, dC, tenha sido aprovada com imensa maioria. Com discursos arrojados de defesa e proteção da vida feitos por uma bancada evangélica e outra conservadora que estão presentes ao longo de toda história política e social deste país, se retroalimentando, sufragando canalhices e amassando qualquer indivíduo que ouse ser contrário às mazelas de seus políticos de estimação, num enojado exemplo de subserviência constante e irrevogável, e a total aceitação do desprezo velado a todos os miseráveis e minorias que teimam em viver neste país.

Portanto, não sejamos hipócritas, a PL do estupro não pode ser um retrocesso, não se pode retroceder aquilo que jamais mudou. Tampouco tem relação com religiosidade, usar o nome de uma deidade para cometer abusos é uma vergonha, um escárnio.

Tudo é mais do mesmo, o torna-te quem tu és que Nietzsche sentenciou, onde o explorador afirma-se a si mesmo jogando-se no mundo, com toda vaidade, é a “Vontade de Potência”, de consumar o ato, na força, no sulco. Essa PL nada mais é do que desejos ocultos, vindo de bancadas religiosas, apropriando-se de uma fé obsoleta em uma deidade, que mesmo eu não acreditando, por leituras, sei de grandes práticas de bondades ensinadas por esse “Deus”, no entanto “ele”, nada tem com isso, é usado apenas para unificar as massas, assim seguem os sortilégios, os abusos e, claro, a absolvição, a anistia e por extensão, segue o Brasil com seu patriarcalismo, controlando todos, inclusive mulheres e seus corpos, segue o Brasil e sua hemorrágica história!