Coluna Políticas Públicas e Sociais: Tempos de mudar

Colunista, Historiador-Everton Villa

Tempos de mudar

É realmente terrível e de consequências até inimagináveis a tragédia que ainda assola, que ainda atravessa a alma, que ainda sentencia a vida do povo gaúcho. No entanto, precisamos entender algumas questões que não podem fazer parte da conta do acaso ou simplesmente das fatalidades naturais.

O lixo! Sim, atentos leitores, o lixo que sai de todas as casas e comércios e que eventualmente não é descartado corretamente. Sem nenhuma sombra de dúvida essa responsabilidade é nossa. Essa montanha de sujeira que se acomoda na barranca dos rios ou mesmo surge na boca de lobo junto com a água que invade as casas e afoga um pouco mais nossas expectativas de melhoras, é fatalmente, uma responsabilidade de todos os cidadãos, ou ao menos deveria ser.

Lembro-me muito bem dos meus tempos de estudante e todas as campanhas feitas na escola de conscientização e preservação do meio ambiente, de falarmos também em casa para nossos pais e avós sobre o descarte correto do lixo e da importância de viver em uma cidade limpa. Mas esse papo parece ter ficado no passado, junto com todas as outras coisas que não precisamos mais, como máquinas de escrever, relógios de parede e livros.

As ideias hoje são concebidas sem bases de apoio sólidas, estão preestabelecidas e sujeitas à mudanças que eventualmente podem ocorrer, dependendo dos jogos de interesses, então fica o que antes era cabível pelo descabido e todo trabalho de outrora, virou papo de cientista fajuto, de alguém que pretende se promover em cima de “catástrofes naturais” (leia-se com ironia), ou mesmo um ambientalista metido a besta, preocupado com a situação dos seres vivos deste planeta e com indícios e hábitos fortes de ser um esquerdista miserável. Definitivamente é uma autossabotagem sem precedentes, tanto quanto está sendo essa tragédia, ou será
pura hipocrisia e mau-caratismo? A reflexão é com vocês!

Não podemos politizar cenários de catástrofes. O posicionamento faz-se necessário na antecedência dos fatos calamitosos. A política precisa intervir antes do desastre, esse aliás, é um fator imprescindível na hora de escolher o candidato a ser votado. O posicionamento após a tragédia é pura lacração, nada mais do que campanha, para futuras promessas de novos desastres.

Precisamos entender causas e consequências empeçadas em nossas atitudes. Devemos compreender e respeitar o lugar onde vivemos e saber das limitações deste planeta, limitações essas muitas vezes imputadas por nós, humanos, predispostos à destruição, ao caos, sedentos do fim.

Mas as esperanças talvez renasçam por aqui, em terras sulistas, com novas façanhas. Agora de alguma consciência, respeito e humildade, especialmente ao natural que tanto tem nos ofertado. Talvez possamos, como fala a canção dos Engenheiros do Hawaii: “celebrar a nova civilização que nasceu da destruição e já nasceu cuidando do que tem, pra não ter que aprender perdendo tudo também”