O Rio Grande acabou
Por volta de 2.500 anos a.C. um poderoso rei sumério da cidade de Uruk, um dos povos que habitava a mesopotâmia e para fins de localização geográfica, estava onde hoje é o Iraque,destacava-se o rei de Uruk, Gilgamesh.
A epopeia de Gilgamesh é contada nos poemas sumérios e é considerada a obra de literatura mais antiga do mundo. Fala da brutalidade e imodéstia deste rei, que em alguns relatos, conta a mitologia, era gigante e por isso tão poderoso, fazendo seu povo sofrer com tamanha perversidade e opressão.
O povo apelou aos deuses, que enviassem um deus mais poderoso que Gilgamesh e acabasse com o sofrimento das pessoas. Os deuses enviaram Enkidu, porém ele só não deu conta de Gilgamesh, como tornou-se seu melhor amigo. Depois de confirmar seu poder, Gilgamesh sai em aventuras e numa dessas, Enkidu, seu melhor amigo, morre. Desolado o rei sai em busca da imortalidade e encontra um velho muito sábio e imortal chamado Utnapishtim. Gilgamesh perguntou ao velho sábio como consegui ser imortal. O velho então contou que os povos estavam desrespeitando os
deuses, sendo arrogantes e pretensiosos demais, por isso iriam devastar tudo e todos, menos Itnapishtim e sua família, pois ele era um homem bom e respeitava seus deuses. Ordenaram-lhe que construísse uma arca gigante e abrigasse todos os casais de animais que pudesse encontrar. O
diluvio aconteceu e apenas a família do sábio e os animais da arca sobreviveram. Existe também outras versões dessa história, uma delas narra os acontecimentos na vida de um sujeito chamado Noé, no entanto o primeiro relato que se tem notícias foi encontrado por arqueólogos nas 12
tábuas de argilas sumérias, cada uma com 300 versos narrando a epopeia do rei de Uruk, Gilgamesh.
Parece que estamos passando por um novo diluvio no Rio Grande. Pessoas sendo socorridas em telhados, crianças sendo resgatadas em barcos, e os heróis dos resgates ainda esforçando-se para resgatar essas crianças de forma lúdica, animais morrendo sozinho sem seus donos, enfim, algo
jamais visto antes, talvez estejamos passando por isso por pretensões e arrogância, por ganância e sede de poder, quem sabe? Fato é que volta e meia as águas retomam o seu lugar de direito, aliás, algumas tribos indígenas falam sobre isso há séculos, seja lá o que for é um horror viver tempos de mortes.
Depois de passarmos por tudo isso, ainda teremos de lidar com as crises sociais que devem crescer dessa catástrofe. Problemas de depressão e ansiedade devido aos traumas. Como reagirão aqueles que perderam tudo, como estará o estado psicológico dessas pessoas? Mesmo não tendo apego a
bens materiais, é difícil seguir não tendo nada, nem mesmo mais vontade de sonhar ou de acordar.
É urgente o fortalecimento do Estado, especialmente quando esta ajuda humanitária voluntária começar a extinguir-se. O presidente Lula deveria estar aqui no Rio Grande ao lado do governador, para juntos atenderem às demandas que são muitas e diversas, porém o presidente não parece ter
esse pensamento ou quem sabe, ainda esteja politizando um ambiente em completo desastre, talvez sinta mágoa por não ter recebido a quantidade de votos julgados por ele suficiente, sendo assim, também esquece, o presidente, que vivemos uma democracia por votos e ela é legítima e
não pode ser bengala nem para fazer, tampouco para deixar de fazer ou mesmo não dar a devida importância para um povo que morre cada dia que o sol não nasce.
Não consigo escrever contando recortes de tanta tragédia, penso que é necessário seguir, o povo gaúcho é guerreiro e tem forjado em sua história a bravura e a coragem de levantar, de se reerguer, mas num segundo instante, olho para a televisão e vejo mais mortes, mais desolação, mais cidades varridas pela força agressiva da natureza que cobra impiedosamente tudo que lhe foi tirada, então lembro-me de uma frase da música do Fito Paez que diz: “é cómo abrir el pecho y sacar el alma”.
Parabéns Everton, muito bem colocado historiador 👏👏👏👏👏👏
Parabéns Parabéns sábias palavras Everton