Coluna Políticas Públicas e Sociais: Educação preterida: O mercado não precisa disso

Everton Villa ( VEVI )-Colunista, Historiador.

Educação preterida: O mercado não precisa disso

Lá nos anos iniciais da década de 1980, onde tudo parecia ser muito leve e o tempo passava devagar, quando as pessoas não tinham pressa e caminhavam letárgicas pelas ruas, com suas mãos ocupadas carregando sacolas e as senhoras de quarenta e poucos anos já aparentavam sinais do tempo que lembravam avós, ainda naqueles longínquos anos 80, Paulo Freire indagava e mostrava-se perplexo diante do abandono escolar em
detrimento da necessidade do trabalho.

Desde então muitas coisas mudaram em nosso país. A moeda que volta e meia era cruzado, cruzeiro, cruzado novo, finalmente firma-se com o plano real, algumas questões de fomento educacional começam ser levantadas e debatidas, o Brasil de fato progride muito em vários setores industriários e agrários, com linhas de créditos bancários que solidificavam e invariavelmente fomentavam os negócios.

Pois bem, se traçarmos uma linha do tempo, de uma maneira bastante resumida, estaremos em nossa época atual, os anos 2000. O fim do mundo estava previsto, mas não aconteceu, melhor dizendo, ele ainda atormenta apenas algumas pessoas, aquelas que deixaram de lado sua formação para adentrar o mercado de trabalho. Pessoas que foram enganadas e submeteram-se à redoma capitalista, ao “looping” infinito que é
essa grande roda gigante de massas proletárias de baixíssimas remunerações.

As evasões escolares ainda em 2024 são um sério problema. Escolas fecham em todos os lugares deste país e ainda nos vendem discursos baratos e hipócritas, insistindo na premissa de que se você é pobre, é melhor trabalhar o quanto antes, você provavelmente não terá meios para estudar e bancar uma faculdade que te torne um sujeito “digno”, então melhor achar essa dignidade no bom e velho trabalho braçal, no chão da fábrica, na vala comum.

Pensamentos assim fazem parte da nossa sociedade empregadora e elitista,
convivemos com essas expressões o tempo todo, no entanto eu lhes informo: Bobagem, o nivelamento por baixo é o que o mercado quer, uma vez que você não tenha uma formação de qualidade, o mercado te joga para baixo e te oferta o seu pior, ainda te vendem sonhos, com frases de efeito moral, essas do tipo: “trabalho dignifica”, “um homem só entendo que o é, quando está com o corpo todo sujo, mas a cabeça leve no travesseiro”… Mentiras! Tudo isso só é possível porque a educação foi deixada de lado, e sem ela não há maneiras e nem milagres.

Sempre que tenho oportunidade, reforço e reitero aos alunos: Não deixem os estudos para iniciarem outras atividades. Jamais protelem, nem procrastinem sua educação, pois é somente através dela que suas verdadeiras virtudes aparecerão e finalmente, quando for chegada a hora de ingressar no mercado de trabalho, o nivelamento se dará por cima, e as oportunidades definitivamente serão iguais, sem desculpas e nem
pretensões hipócritas de meritocracia.