2º ANO-Coluna Políticas Públicas e Sociais: A falta da Intelectualidade formadora dos paradigmas sociais

Colunista-Everton Villa ( Vevi )-Historiador.

Outro dia estava revendo algumas leituras que devo fazer e são de relevante importância por se tratar de estudos, pesquisas e competências dentro da área de História. Formação social do Brasil, política, poder, educação, enfim, assuntos sempre tidos como urgentes, mas que necessitam
prospecção, tempo e reflexão.

Foi então me dei conta de que meus livros já tem suas capas amareladas, são livros antigos e bem surrados pelo tempo. Alguns ainda escritos a máquina de escrever, com suas letrinhas bem desenhadas e charmosas. Particularmente acho tudo isso incrível. Gosto de imaginar como esses
historiadores levavam sua pesquisa, deixando de lado suas vidas e entregando-se de alma ao trabalho, criando teorias, teses e expandindo horizontes para novos conhecimentos.

Na esteira desses pensamentos lembrei-me da sempre atual e absoluta professora Maria da Conceição Tavares que falava ainda no século passado, sobre a perda da importância dos intelectuais enquanto formadores de paradigmas.

É imprescindível a intelectualidade para a continuação das formações sociais, pois são várias e diversas e dinâmicas, estão sempre em movimento, portanto precisam atenção, do contrário essas formações não se sustentam e tornam-se suscetíveis a cooptação de lobistas, de políticos sórdidos, interessados apenas no dinheiro público (aliás, dinheiro esse que nunca foi público, sempre foi dessa galera) e até mesmo de algum astrólogo barato que se autoproclamava professor, mas sempre foi um bufão, uma caricatura risível e felizmente deixou de existir.

A pouca relevância dada nos dias de hoje aos intelectuais nos mostram um verdadeiro caos. O retrocesso do conservadorismo, o neoliberalismo apoteótico e descontrolado, o mercado que aceita a todos, porém quem não estiver preparado está fora dele, a intolerância de tudo e a frívola banalidade daqueles que não estão nem aí para os pensadores das condições humanas, deixam tudo muito mais fácil para a instauração de ideologias, especialmente as políticas. Por certo ainda devem existir intelectuais comprometidos com essas formações, no entanto, padecem no
ostracismo, não venceram as redes famintas por cérebros novos, vegetando na busca da “insider information”.

Agora nessa corrente de pensamento, os novos intelectuais já não escrevem mais livros, já não pretendem expandir conhecimentos, tampouco formar indivíduos reflexivos e atuantes. Agora os novos intelectuais fazem lives e vendem pedaços de cruz junto aos seus deputados religiosos, usando terno italiano e chapéu branco.

Agora, Paulo Freire já não é mais um educador e expoente no trabalho voltado a alfabetização e a sociologia, ao trabalho escolar de direito a todos, virou um burocrata comunista. Casa grande e senzala, sobrados e mucambos, parecem não ter relevância na construção desse país, nem na obra de Gilberto Freyre, a filosofia sempre atual e contemporânea de Marilena Chauí é um absurdo e não tem espaço no “facebook”, nem no “telegram” ou para ser repassado via “whats”, não traz nenhuma “fake”, não faz nenhuma proposta corruptiva ou de caminho curto para o sucesso
financeiro.

Acabam-se os velhos e seus papéis amarelados com cheiro de cigarro e café. Finda-se a preocupação com a capacidade humana de indignar-se com as penúrias alheias e voltam-se os olhares para a nova intelectualidade. É o novo mundo, redescoberto, desmatado, queimando tudo aquilo que não for capaz de se adaptar. Acaba-se também esta reflexão, possivelmente sem
nenhum poder de assimilação ou aceitação, mas de extrema capacidade de chateação. Professora Tavares, a senhora sempre esteve certa!