O molde da hipocrisia
Toda vez que sento em frente ao computador para escrever, penso em tirar da cartola algo novo, leve e que suficientemente de alternativas bacanas para o leitor, tento fugir de temas polêmicos, de cunho político, especialmente quando o assunto demanda uma possível sentença dos sempre vigilantes e extremamente cansativos formadores de opinião.
O problema é que no Brasil e por extensão na província riograndense as situações simplesmente surgem, irrompem como o mar invadindo a areia da praia. Não por acaso, gaúchos meteram-se em várias revoluções ao longo da história e por vezes acabaram sozinhos e submersos no próprio sangue.
Exatamente por isso, consciencioso leitor, não será hoje, o dia de uma leitura leve. Basta ver as notícias sobre o escândalo dos médicos do SAMU que vem preenchendo os espaços das conversas e mais uma vez, alimentando a ideia deste colunista sobre a hipocrisia, dona de muitas atitudes que tomam as pessoas quando as circunstâncias lhes favorecem.
Explico. Tenho evitado falar de política, esse assunto já rendeu muito e sinceramente está chato, mas quando ouço de amigos falando sobre o presidente do ramo imobiliário ou o ex presidente do ramo de metais preciosos (não é assim que falam seus fãs, porém o humor faz parte da minha escrita e meus heróis estão quase todos mortos, os de literatura completamente pobres e fadados ao esquecimento, e os da música, por overdose, então seguirei tratando-os como me convém), faço a seguinte reflexão: Poxa, se essa galera está no cenário político, dominando massas de manobra, claramente é o espelho refletindo uma sociedade subserviente, cheia de fragilidades e fácil de manipular, os exemplos estão nos embates vazios por políticos de estimação e nas depredações do patrimônio público.
Médicos não cumpridores de seus horários, ganhando uma fortuna mensal que certamente um trabalhador assalariado precisaria muitos anos de sua vida para conseguir, é um escárnio, de uma arrogância tipicamente brasileira. Um governador do Estado omisso e cegamente comprometido em viabilizar sua candidatura para uma futura presidência da república dos bananas, perdão, de bananas e uma imensa maioria de eleitores coniventes
com as posições de seus candidatos justamente porque também tentam se beneficiar no toma lá da cá antes de exercerem seu “direito cívico” de votar, é só mais do mesmo. Tudo já foi visto. Alguma novidade nessas verdades? Alguma dúvida? Alguma mentira de efervescência altamente ideológica?
Talvez essa coluna seja um desabafo. Certamente está carregada de insatisfações, principalmente por essa hipocrisia constrangedora. Como, senhoras e senhores, como vamos lutar e gritar por mudanças se a maioria das pessoas se submete a isso? A corrupção ocupa uma parte significativa na vida moderna, ela é simplificadora, corta caminhos que seriam espinhosos e necessários para aprendizagem e juízos de valores, e, sobretudo, parece um salvo-conduto. Se você faz uso dessas mazelas deve manter-se calmo e fiel
como dita o mantra, negando e atacando a quem puder, formando opiniões sem conhecimentos de causas, sem embasamento e navegando no mar escuso da hipocrisia, mesmo que conspurcar seja sujo, afinal sujeira sai com um banho.