Coluna Políticas Públicas e Sociais: O belíssimo fracasso do oito de janeiro de 23

Colunista Everton Villa

O belíssimo fracasso do oito de janeiro de 23

Curiosamente escolhi para releitura deste primeiro mês de janeiro de 2023, a biografia de Luís Augusto – Duque de Berry, famoso por seu papel na História do mundo como Rei Luís XVI. Uma obra muito bem escrita pelo autor Bernard Vincent, professor emérito de História e Civilização americana pela Universidade de Orléans, tradução de Julia da Rosa Simões e
editora LePM. Luís XVI foi um jovem muito recluso e discreto, casou-se muito cedo e assumiu um trono que jamais imaginaria seria seu, afinal seu irmão mais velho, o primogênito da família real, Luís José – duque de Borgonha estava sendo preparado para tal cargo, no entanto fora acometido de um câncer, e sem ainda completar dez anos, morre, deixando a monarquia de luto.

Aos vinte anos Luís XVI é coroado, sua despretensão política, despreparo para assumir uma função de exigências constantes e por vezes com tonalidades de requintes de crueldade, aliadas à eclosão da Revolução Francesa, o rei não perdurou muito tempo no cargo e foi decapitado aos 39 anos, no auge da revolução francesa.
A revolução francesa, se observada sob uma ótica alternativa, impôs um destino trágico a um homem interessado por ciência e projetos de pesquisa, um leitor assíduo, que falava várias línguas, conhecedor de inúmeros assuntos e os abordando de maneira nada superficial. Porém a revolução tratava de problemas urgentes, como fome, miséria e uma abismal desigualdade social, mesmo que o iluminismo e a Revolução americana façam parte desse processo, as urgências eram essas. Problemas sérios, culminariam com ações severas e o resumo lhes contei acima.
Tal revolução nos ensinou a engatinhar para os princípios democráticos, um Estado de Direito, onde as pessoas escolhem seus representantes através do voto e isso é legítimo, sendo assim, qualquer manifestação não pacífica, ou seja, a depredação do patrimônio público, o uso da violência ou mesmo o financiamento e facilitação para a desordem, são ataques à democracia, é vandalismo, baderna, banditismo, golpe e, dentro desse espectro conservador, radical e violento ocorrido há pouco no Brasil, é também fascismo.

Os fatos contados na historiografia brasileira, retratam todo sangue derramado para reaver seu processo constitucional, que é falho, sim, mas existe e protege a nação e os direitos de seus indivíduos, ainda que em certos casos de protestos envolvendo negros, professores e LGBTs, por exemplo, acabem com balas de borrachas e muita porretada por parte das forças de segurança (lembrando que esses protestos não tiveram fins antidemocráticos, ao contrário, eram por direitos e igualdade).

A barbárie vista por todo o mundo em 8 de janeiro, ridiculariza os brasileiros, afronta a legitimidade de uma eleição e o tempo desprendido das pessoas que foram votar em dois domingos, pois trabalhadores, por incrível que possa parecer, às vezes, tem apenas o domingo para o seu descanso, e principalmente, coloca em cheque essa democracia, retrocedendo para um tempo onde seres pensantes, críticos e libertários morriam por sua posição de querer limar conspurcadores da democracia e as benesses de déspotas canalhas e, por muito medo a maioria se calava e consentia. Aqueles que como hoje aceitavam e defendiam, desculpem a sinceridade, nunca passaram, nem passarão de subservientes,
coniventes de toda canalhice e supérfluos que moldam nossa sociedade, ainda colonial.
Nesse momento, enquanto brasileiro e historiador que sou, crítico dos meandros e mazelas políticas que emporcalham, enxovalham e usam pessoas desavisadas ou fanáticos, me posiciono e afirmo soberano e dono das minhas virtudes e convicções: “Ditadura nunca mais, lugar de milico é na caserna”!

Um comentário

Os comentários estão fechados.