O projeto antieducativo
Tenho pensado muito nesses dias a respeito da educação brasileira e o quanto ela encontra-se sucateada. Não quero aqui ser compreendido como um discurso político contra esse ou aquele governo, quem me conhece sabe, serei sempre um crítico ferrenho dos desleixos e do projeto antieducativo proposto por absolutamente “todos” os governos em nossa curta e tortuosa
democracia, se assim podemos chamá-la, enquanto historiador que sou tenho sérias contestações a respeito, mas isso é assunto para outro momento.
Quero falar sobre quais as finalidades obtidas desse sucateamento educacional. O dinheiro, obviamente faz as honras e abre o leque de possibilidades, afinal de contas sabemos muito bem que políticos geralmente têm dificuldades gigantescas de gerir o dinheiro público e
costumeiramente ele tem seu destino em cuecas, em paraísos fiscais, mansões compradas à vista, enfim, qualquer lugar incomum, mas jamais acaba em melhorias nas escolas para efetivas mudanças de infraestrutura e aprendizagem, tampouco numa possível e indelevelmente sonhada melhor remuneração dos educadores. Infelizmente esse fato já é voto vencido, sem novidade alguma.
Agora, se pararmos para refletir e pensarmos nas imensas agruras sentidas por pais assalariados, muito mal remunerados, dependentes de transportes públicos, também sucateados tal qual a educação, começamos a enxergar a ponta do iceberg. Veja você, sagaz leitor, falo de pais trabalhadores, os ditos chãos de fábrica, serem incapazes de sequer conseguirem lugar para matricularem seus filhos em escolas públicas, isso se deve a pouca
quantidade de vagas para uma cidade grande, ao fechamento de escolas pela falta de recursos públicos e aos projetos eleitoreiros pré-concebidos em campanhas poluídas e nefastas, desprendendo a educação para que as pessoas sigam a mesma esteira proletária de seus pais e avós. Ademais, é um jogo de sorte, uma roleta, se cair seu número, você ganha! A educação
jamais foi prioridade em governo algum, embora a utopia esteja presente na maioria dos casos, como marketing de sucesso incontestável.
Então partimos do princípio complicado que é a matrícula e vamos até um momento em que o aluno se vê adolescente e entende o trabalho como uma opção para melhorar a sua condição de vida, repare, o aluno pensa em melhorar a sua própria existência, pois acredita nesse discurso hipócrita vendido por pessoas dispostas a tudo por dinheiro. Logo, esse aluno
substitui seu tempo na escola pelo trabalho, esse, igualmente mal remunerado como é o de seus pais. É uma roda tão gigante que nem o estado e muito menos certos empresários opulentos de mão de obra barata precisam mais fazer força para essa roda girar, pois ela já é autossustentável, uma máquina fatalmente bem construída dentro, é claro, das leis e dos meandros feitos por políticos eleitos por esses pecuniosos e pelos mesmos trabalhadores, ora iludidos e ora persuadidos, sustentando um país economicamente rico, porém rico com o dinheiro que falta para uma criança chegar até a escola, estudar, tornar-se um cidadão crítico
e definitivamente conseguir transformar a sociedade onde ele também vive, além, é claro, de ser um sujeito vítima da força opressora, o que explica a riqueza pessimamente distribuída no abismo das classes sociais.