Ficaremos sem cerveja?

Mudanças climáticas ocasionadas pelo aquecimento global podem impactar na produção da cerveja, a bebida alcoólica mais consumida do mundo.

A cerveja que tanto gostamos pode ter seu futuro ameaçado, uma vez que dois de seus principais ingredientes correm risco de terem sua produção reduzida ou até extinta: a cevada, usada para gerar o malte, e o lúpulo. Isso mesmo, segundo estudo publicado na revista científica Nature Plants, se o aquecimento global continuar no ritmo atual, fenômenos como secas e calor podem afetar as principais regiões produtoras do mundo, impactando na colheita e preço dos principais ingredientes da cerveja.

A alternativa otimista a esse cenário está nas ferramentas que a ciência desenvolveu para atuar sobre os genes. De acordo com as pesquisas, uma das possibilidades seria a de aprimorar a habilidade da cevada produzir o malte durante o processo de germinação. É do malte que se retiram os açúcares que são transformados em álcool pelas leveduras durante a fermentação.

Dessa forma, a seleção genética de variedades de cevada com maior quantidade de aleurona, tecido presente no grão e diretamente relacionado à produção de malte, representa uma estratégia de otimizarmos a produção da cerveja. Além disso, não se pode descartar o desenvolvimento de cultivares do cereal mais resistentes à seca ou ao calor, reduzindo o impacto da elevação de temperatura nas lavouras da cevada.

O lúpulo, quando adicionado ao malte, água e leveduras, dá o aroma e sabor característico da bebida. Por esse motivo, todo produtor de cerveja é dependente dessa matéria-prima, que é bastante sensível às mudanças climáticas.

Por ser uma planta de origem europeia, típica de regiões temperadas do Hemisfério Norte, não se adaptou completamente às condições do Brasil. Ainda que algumas variedades sejam cultivadas com grande sucesso em regiões com temperaturas médias anuais elevadas, a temperatura mais favorável para o cultivo de lúpulo deve estar próxima de 8ºC a 10ºC.

Por ser uma planta de clima frio, nossa produção ainda é muito pequena e precisamos importar o lúpulo para garantir nossa cerveja. Segundo a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), os cinco maiores produtores de lúpulo do mundo são os Estados Unidos, Etiópia e Alemanha, China e República Tcheca. Por isso, o melhoramento genético ainda terá um longo caminho para adaptar variedades tolerantes às temperaturas mais altas.

Enquanto isso, alternativas surgem dos laboratórios para não ficarmos sem o tempero da cerveja, caso a produção no campo de lúpulo diminua muito. O cientista Davis Charles Denby, da Califórnia, inseriu genes retirados da hortelã e manjericão em leveduras e descobriu que com essa bioengenharia os microrganismos produzem compostos que dão um sabor parecido ao que o lúpulo fornece para a cerveja.

Nos testes de laboratório sensorial da universidade, 50% das amostras de cerveja produzidas a partir da levedura transgênica (e sem lúpulo) apresentaram o amargor típico da bebida feita de maneira tradicional. É claro que, resta ainda saber se esse sabor vai agradar a todos os cervejeiros.

O fato é que, assim como a ciência nos sinaliza sobre as potenciais dificuldades de garantirmos uma boa cerveja no copo, é com a ciência que poderemos superar as limitações. Afinal, assim tem sido ao longo da história dos alimentos.

Contudo, a humanidade já passou por crises e momentos de escassez e, mesmo que eles não façam parte da sua memória, vale o registro. A produção dos alimentos está inserida num grande ciclo do qual fazemos parte. Nossos hábitos de consumo e relações com o planeta interferem nesse contexto. Por isso, faça a sua parte. Informe-se, desenvolva hábitos sustentáveis e compartilhe suas descobertas.

FONTE: www.canalrural.com.br